Postagens

Paixão e prazer

Imagem
RUY ESPINHEIRA FILHO     Numa carta a Anita Malfatti, em resposta à correspondência em que a pintora definira o artista como um “transmissor de beleza” e dizia desejar ter um Debret e um Rugendas em casa para estar sentindo vontade de “fazer um quadro com sabor daquela gente”, Mário de Andrade escreveu que o artista “não é ´transmissor´ de beleza, é criador”, acrescentando que a arte, “que não é só beleza, por mais pensada, é feita com carne, sangue, espírito e tumulto de amor”. Transcrevi estas palavras de Mário na abertura do primeiro texto do meu ensaio de doutorado em Letras e delas tirei o título do livro:  Tumulto de amor e outros tumultos – criação e arte em Mário de Andrade , publicado pela Record em 2001. Palavras que, creio, são das mais expressivas escritas sobre a arte, porque sem carne, sangue, espírito e tumulto de amor não se faz arte alguma. Carne, sangue, espírito e tumulto de amor que encontramos neste  Fotografia de um minério , de Luciano Lanzillotti. Be

Fotografia de um minério, por Mário Baggio

Imagem
      Depois do ótimo “Geometria do Acaso”, de 2021, o poeta Luciano Lanzillotti apresenta este “Fotografia de um minério” e confirma sua preocupação com o social e com a condição humana, temas já explorados na obra anterior. O comezinho da vida em sociedade e a relação entre os seres continuam sob a lupa do escritor que, com textos curtos e cortantes, expõe com grande sensibilidade as mazelas do nosso tempo. O eu-lírico que salta das páginas dessa nova obra não devaneia, não se perde em fluxos de consciência. Há vida real, a dura vida real nos versos ora escritos, e é essa concretude, semelhante à dos minérios, que confere brilho à poesia de Lanzillotti.   Dividida em 4 partes (Jásper, Opala, Quartzo e Turmalina), a obra vai, em curva ascendente, revelando ao leitor que as verdadeiras relações humanas ganham relevância quando forjadas com ferro em brasa. Para Lanzillotti, importa o dia a dia vivido nas cidades, nas vizinhanças, nos pequenos acontecimentos da esquina de nos

A ganga poesia de Luciano Lanzillotti, em “Fotografia De Um Minério"

Imagem
                                                      Rose Calza* Primeiramente, vamos falar de escolhas e assim foi este o instigante nome dado ao livro de Luciano Lanzillotti - “Fotografia De Um Minério”. Senão, vejamos: uma das definições de “minério” é ser rocha, sedimento ou solo. Se, segundo o poeta, são muitas camadas que compõem um corpo” (em Tecido Mole, p. 25), por analogia, o livro se organiza em depósitos de concentrados, ou seja, poemas/ jásper, p. 19, opala, p. 47, quartzo, p.75 e turmalina, p.101. E eis que não pela bateia, porém, por instantâneos fotográficos é que o texto se revela enquanto ganga: a parte não metálica que forma massa principal do minério. Na primeira recolha, jásper se estende em: esfinges, moradas, estilhaços, tal minério, separados de outros sedimentos. Por ser este um livro o que contém a cifra e a alma que pode conter a decifração, (apud Fernando Pessoa) , rapidamente, num semiótico abre alas, compreendemos a que o poeta se propõe: “procuro respost

Fotografia de um minério, por Krishnamurti Góes dis Anjos

Imagem
  Por Krishnamurti Góes dos Anjos (*)   O segundo livro publicado do senhor Luciano Lanzillotti, “Fotografia de um minério” - poesias, revela e amplia aquela primeira impressão que tivemos quando do lançamento de “Geometria do Acaso”, seu livro de estreia. Positivamente o autor faz parte daquele diminuto time de autores, que tiveram uma formação acadêmica em Letras e, sobrepondo-se a isto, conseguem combinar conhecimento e sensibilidade acima da média. O escritor Ruy Espinheira Filho que assina o prefácio, a certa altura afirma que na obra, Lanzillotti, escreveu páginas que “transitam, sobretudo, como ocorre na melhor poesia, pela condição humana em situações essenciais: o enigma do ser, a brevidade no mundo, a necessidade de ir em frente, sempre e sempre. Tudo com a presença dos sentimentos, das carências, do amor, como sempre, repito, na melhor poesia.” E é uma verdade à qual se pode acrescentar outra que cada leitor pode usufruir de acordo claro, com o grau de sensibilidad

Geometria do Acaso, por Leonardo Valente

Imagem
  Pular para o conteúdo Versos e afins: poemas, resenhas e livros Obra tão sensível e bela que agora ganha o mundo Foto por Dobromir Hristov em  Pexels.com Como são belos o acaso planejado da arte e a sensibilidade do poeta em converter as subjetividades tão fluidas da vida em textos-objetos capazes de ocuparem lugares no espaço. Poucas expressões são dignas desses feitos tão sofisticados como a poesia, e em “Geometria do Acaso”, Luciano Lanzillotti transubstancia aparentes paradoxos em sentidos poético, estético e político, e com eles desenha formas e preenche lacunas em nossos vazios e nos vazios do mundo. Um livro organizado pelo acaso metodicamente delineado e calculado, capaz de gerar uma genuína e variada geometria de sentidos, de organizar e dar liga narrativa por meio de analogias e alegorias suas cento e vinte poesias.” No capítulo de abertura, Esfera, o desenho contínuo e cronologicamente difuso do tempo (mas, acredite, “a culpa não é do relógio, máquina indefesa”), das lembr